Por Adriano Salgado • 5 de maio de 2020
Nota sobre a retomada das atividades letivas de forma remota
No dia 27/04, o pró-reitor de Graduação da UFLA realizou apresentação virtual de uma proposta de retomada do calendário letivo com atividades de ensino-aprendizagem realizadas de forma remota. Lamentavelmente, a proposta apresentada não foi construída de forma democrática e o documento com o seu texto não foi disponibilizado. Diante do que foi apresentado, muitas incoerências ficaram nítidas e aqui apontamos algumas: apesar das incertezas, são apontadas datas para atividades presenciais; estudantes em condições de vulnerabilidade socioeconômica não terão direito garantido de acesso às atividades remotas; as condições precarizadas de trabalho docente não foram levadas em consideração.
Em geral, as análises sobre os efeitos da pandemia do coronavírus apontam que ainda enfrentaremos por muitos meses (ou anos) o problema do distanciamento social, mesmo que de forma intermitente. Por isso, na tentativa de manter estudantes envolvidos com seus cursos, é salutar que pensemos em algumas alternativas para que atividades de ensino possam ser realizadas remotamente. No entanto, é temerário estabelecer um calendário acadêmico prevendo datas para encontros presenciais e considerando como premissa básica o fim do ano letivo ainda em 2020. Não é apenas a partir do cumprimento do calendário letivo e do sistema de créditos obrigatórios que docentes podem trabalhar com estudantes as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Diante de tanta incerteza, não faz sentido nos nortearmos por um calendário acadêmico tradicional.
Mesmo que partamos da premissa de que é importante manter docentes e estudantes envolvidoscom atividades de ensino-aprendizagem durante o distanciamento social, deveríamos adotar como premissa básica a necessidade de garantia de acesso de todo estudante às atividades remotas. Para isso, é essencial que estudantes em situação de vulnerabilidade sócio-econômica tenham acesso, minimamente, a internet e computador adequados. De acordo com a PNAD 2017, no estado de MG apenas 48% dos domicílios apresentam, simultaneamente, acesso a internet banda larga e computador (ou tablet). É necessário pensarmos em formas de garantir as condições materiais que evitarão que a universidade seja ainda mais excludente nesse período tão catastrófico.
Docentes e técnicos-administrativos também enfrentam dificuldades para o desempenho de trabalho remoto. Muitas pessoas não possuem ambiente de trabalho adequado em suas residências, seja porque não foram planejadas para isso ou estão ocupadas por pessoas que necessitam de cuidados (crianças e idosos, por exemplo) ou simplesmente porque não possuem os equipamentos tecnológicos necessários. Por isso, haverá desigualdade entre as condições para cada docente trabalhar suas atividades letivas remotamente. Isso poderá acarretar, especialmente para as mulheres, jornadas de trabalho extenuantes que afetarão enormemente suas saúdes mentais.
Por fim, não se pretende com esses apontamentos fechar as portas às atividades remotas de ensino-aprendizagem. A diretoria da ADUFLA está disposta a dialogar e construir conjuntamente alternativas que reduzam os efeitos da pandemia sobre a vida acadêmica de nosso corpo discente e de nossos trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, é essencial que essa alternativa seja elaborada de forma democrática, seja inclusiva e justa para estudantes, leve em consideração a precarização das condições de trabalho e abandone previsões para a realização de encontros presenciais.
ADUFLA Seção Sindical