Por Adriano Salgado • 16 de abril de 2021
Professores que trabalharam presencialmente nas escolas tiveram risco quase três vezes maior de desenvolver Covid-19 do que a população da mesma faixa etária do estado de São Paulo, de acordo com um monitoramento em 299 escolas estaduais feita por 26 professores ligados a subsedes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e analisado pelo grupo Rede Escola Pública e Universidade (Repu).
O estudo monitorou os casos de Covid-19 por 100 mil habitantes em 554 escolas da rede estadual paulista e analisou os números das 299 unidades escolares que forneceram dados das semanas de 7 de fevereiro e 6 de março de 2021, período em que as escolas retomaram as aulas presenciais.
No período analisado, a incidência de novos casos de Covid-19 dentre os professores de 25 a 59 anos cresceu 138% em comparação a um crescimento de 81% na população da mesma faixa etária no estado de São Paulo.
A análise foi feita por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP).
De acordo com os pesquisadores da Repu, os dados mostram que a retomada das atividades escolares presenciais não pode ser considerada segura nas escolas da rede estadual, diferentemente do que vem sendo anunciado pelo governo paulista. A decisão de volta às aulas presenciais foi justificada pela gestão estadual com base em um boletim epidemiológico divulgado no início de março pela Secretaria Estadual da Educação.
O boletim mostrou a taxa de incidência de Covid na comunidade escolar como um todo, como professores, funcionários e inclusive alunos que não chegaram a ir à escola presencialmente. A conclusão deste estudo é que a taxa de incidência foi 33 vezes menor nas escolas no estado.
Os pesquisadores do Repu contestam o resultado. Eles chegaram a pedir ao governo os números de infecção em professores e funcionários da educação via Lei de Acesso à Informação (LAI), mas o pedido não foi respondido sob a justificativa de que o estado já havia divulgado o boletim epidemiológico. Entretanto, a taxa de infecção entre professores não foi divulgada na base de dados.
O pesquisador da Universidade Federal do ABC (UFABC) e um dos autores do estudo, Fernando Cássio, contesta a falta de divulgação de dados por parte da gestão João Doria (PSDB).
“A propaganda [de que é seguro voltar às aulas presenciais] é irresponsável porque engana a população e é muito grave porque isso está sendo feito por um governo que supostamente está do lado da ciência. Se a nossa pesquisa não mostra a realidade, se a ideia é refutar, cadê os dados? A gente está entrando em um novo ciclo de negacionismo. O governo de São Paulo quer se colocar como um contraponto ao governo Bolsonaro, mas ele também é extremamente negacionista e de um jeito pior, porque é revestido de uma certa aparência científica que na verdade não existe, então o que essa pesquisa mostra nesse sentido é demolidor.”
De acordo com Oliveira, é preciso discutir o retorno às aulas porque a pandemia não estará controlada até o final de 2021. “Vamos ser realistas. Não temos condição nenhuma de encerrar esse processo em curto prazo porque a gestão federal está aí. Vale uma ponderação de como nós vamos organizar o retorno. Os professores entendo [que têm de encarar] como um exercício de preparação esse retorno. Outros países voltaram a ter aulas presenciais, como Reino Unido, Canadá, estamos estudando e aprendendo. Não há uma pessoa que possa afiançar que a gente está completamente resolvido com isso [até o final de 2021]. Temos muitos problemas no processo como um todo”, afirma.
Por Bárbara Muniz Vieira, G1SP — São Paulo