Por Adriano Salgado • 23 de maio de 2016
Nota de posicionamento da ADUFLA em relação ao caso do ‘Saiato’ e à ‘Cultura do Trote’ nas Universidades.
A ADUFLA, após discussões feitas nos assuntos gerais da assembleia de 09 de maio de 2016 sobre os constrangimentos ocorridos recentemente na Universidade Federal de Lavras devido a tentativas de controle de trotes vexatórios, torna pública sua posição em favor de estratégias formativas que substituam tais práticas de controle.
Entendemos que a cultura do trote é incompatível com a missão da universidade por reproduzir padrões de comportamento que hierarquizam as relações entre indivíduos, tratando a diferença como demérito em vez de riqueza cultural. Agir como se um/a estudante, por ter tido acesso à Universidade pública há mais tempo, tivesse qualquer direito sobre outro/a estudante é afirmar uma lógica de abjeção daqueles/as que chegam à Universidade. Entendendo que a Universidade pública deve se constituir como espaço de afirmação política da equidade social e que para isso a acolhida aos/as estudantes deve ser um momento de auto-afirmação, consideramos que a reprodução da cultura do trote só pode ser combatida via ações educativas.
Como educadores, nos é imprescindível acreditar que o acesso a discussões que problematizem essa hierarquização entre iguais pode promover o desenvolvimento reflexivo de estudantes e a mudança de comportamentos da comunidade acadêmica. Em relação às performances de gênero, por exemplo, compreendemos que a naturalização dos binarismos propicia o uso de artefatos culturais (roupas, acessórios, etc.) ditos femininos ou masculinos como forma de exposição que se pretende vexatória. Assim também ocorre com o uso de artefatos de referências étnico-raciais (negros, indígenas, etc.) para exposição de estudantes.
Havendo na comunidade universitária a consolidação de conhecimentos ligados à construção cultural do feminino e do masculino, a lógica do controle do vestuário perde qualquer respaldo, pois não há relação entre roupa e gênero. Assim também, superamos desigualdades de tratamento entre pessoas que ocupem lugares sociais ditos masculinos, femininos, ou não-binários. Por isso, consideramos ser necessária a criação constante de espaços-tempos formativos que promovam o conhecimento sobre relações de gênero e étnicorraciais, em acordo com as deliberações do 35º Congresso do Andes – Sindicato Nacional.
Neste sentido, a Assembleia Geral da Adufla, propõe os seguintes encaminhamentos:
a) Combater a cultura do trote promovendo debates sobre esta prática no campus;
b) Colaborar com a promoção de medidas menos punitivas e restritivas e mais educativas e acolhedoras;
c) Lidar com questões de gênero de forma coletiva, enfrentar os preconceitos ligados ao tema e oferecer espaços de formação para a comunidade acadêmica em geral.
Assembleia Extraordinária da Adufla (09/05/2016)